Dirty Old Man

Num barzinho te conhecerei
E o gosto do whisky sentirás
Quando eu, intensamente, te beijar
E o meu olhar te devorar.


No sofá mágico deitarás
E a tua roupa arrancarei
Como vieste ao mundo ficarás
Objeto do meu desejo te deixarei.

No teu corpo me lambuzarei
E o meu sexo engolirás
Os teus peitos com volúpia chuparei
E com beijos mordiscados te arrepiarás.

Ao som de blues te penetrarei
E com nossos sexos unidos dançarás
Tal qual um predador me comportarei
E como uma fêmea no cio gemerás.

Movimentos ritmados
 
Beijos roubados
Recomeços animados
Tapas estalados!


Entrega total
Instinto animal
Êxtase fatal
Gozo colossal!

O sexo do dirty old man
É o prazer da vida real
E como tal por vezes irracional:
Sujo, safado e depravado.

Um Dia Especial

Marianna, minha filha amada Hoje é um dia especial, o teu aniversário E com inspiração muito animada Papai escreve do que da vida é necessário! Quando nasceste, num domingo ensolarado O mundo ficou mais iluminado Tua chegada foi motivo de grande alegria, querida E tornou a primavera muito mais florida! Acompanhar a tua evolução É motivo de grande satisfação O tempo passa rápido, minha amada Num piscar de olhos já estavas desmamada! Os primeiros passos, o primeiro caminhar E de repente começaste a falar Mas que vós me desculpai A primeira palavra foi papai! Hoje és quase uma mocinha Querendo o mundo entender Lembra sempre desta lembrancinha Que o melhor da vida é se surpreender! Te desejo um futuro promissor Num mundo nem sempre tão animador Encarar as dificuldades de coração aberto Porque tanta beleza nos deixa boquiaberto! Então, hoje, quando completas mais um ano O papai quer te desejar Felicidade do tamanho do oceano E que por muitos anos possamos velejar! Que na música da vida possas não desafinar E o melhor presente que consigo imaginar É que vivas o momento presente Sempre alegre e muito sorridente!

Blues

Nos campos de algodão do Mississippi
Escravos negros trabalham
De sol a sol, como animais
Em condições sub-humanas.

Na mais terrível adversidade
O cantarolar faz o homem se animar
As canções de trabalho
São o que restam em sua vida bestial.

Assim nasce o blues:
A tristeza de um lamento incurável
Mas também é alegria
Na mais profunda melancolia.

Quem pode não apenas suportar
Mas também amar o destino
Mesmo nas tragédias?
Blues é amor fati!

A arte da superação
Através da música
Isso ninguém arranca do homem:
Que sofre,
Que chora,
Que é humilhado
E massacrado
Mas que transcende buscando sentido
E que canta celebrando a vida:
Eis o blues!

Felicidade Primaveril

No último domingo de inverno
Vindo da Ciudad Vieja
Passando pela Puerta de la Ciudadela
Atravessando a Plaza Independencia.

Eu caminhava, caminhava
Pela avenida 18 de Julio
No coração de Montevideo
Rumo à feira Tristan Narvaja.

E chovia, chovia
Eu me abrigava aqui e ali
Passando por um alegre Gardel
E um desconfiado Hitchcock.

Finalmente na feira
Notei a multidão a sorrir, eufórica
Foi quando encontrei um palhaço
Fazendo seu número na avenida.

E ele brincava, brincava
Parando motoristas e pedestres
Rindo de si e da seriedade
Do mundo ordeiro e racional.

Naquele momento
O palhaço era o senhor do mundo
Que se tornava leve, leve  
E todos o admiravam hipnotizados.

Um sentimento de alegria infantil
Tomou conta de mim
Sozinho eu ria, ria
E chorava e ria e chorava de novo.

Quando a chuva apertou
A apresentação terminou
A multidão dispersou
E eu regressei após um longo inverno
Com a felicidade primaveril
Florescendo no meu coração.

Inspiração

Para a vida
Inspiração é condição:
Que faz encher o pulmão
E, assim, tudo é troca e imposição.
Para o cristão
Inspiração é sopro divino:
Que faz do homem um escritor bíblico
E, assim, tudo é moral e aforismo.
Para o budista
Inspiração é iluminação:
Que faz cessar o sofrimento
E, assim, tudo é indiferença e aceitação.
Para o filósofo
Inspiração é pensamento:
Que faz da ideia a arma mais poderosa
E, assim, tudo é análise e questionamento.
Para o poeta
Inspiração é euforia:
Que faz da escrita sua expressão
E, assim, tudo é comédia e tragédia.
Para o homem
Inspiração é provimento:
Que faz do desejo sua vontade
E, assim, tudo é paixão e sentido.

A inspiração é condição
Do sopro divino e da iluminação.
A inspiração é provimento
Da euforia e do pensamento.

Amor Fati

Na marcha diária rumo à inevitável morte
Um espectador de mim mesmo é como me vejo.
Tudo que passou é estimado suporte
Para o porvir que almejo.

O presente é tudo que me agarro
A certeza num mundo de desconfianças.
Ao peito materno que encaro
Como a mais faminta das crianças.

A felicidade da superação
Nascimento, morte, resiliência.
A tristeza da frustração
A arte da aquiescência.

Quem é capaz de suportar o destino
E, como o mais louco entre os loucos, amá-lo ainda?
Pensamento nobre
Que justifica toda a existência.
Riso, choro, alegria, decepção
Gozo, namoro, sangria, corrupção
Amor integral ao destino:
Não desejar nada diferente.

O mais profundo pensamento
E a atitude mais nobre
Não apenas suportar,
Mas amar a vida:
Tudo que é, foi e será.

Clássico Casual

Era uma terça chuvosa de outono,
Feriado do trabalhador,
quando nos conhecemos.
E a bebida do deus Dionísio
a companhia de uma tarde melancólica.

Trabalhamos plenamente
por doze horas no meu sofá.
Na segunda taça de vinho
nos beijamos intensamente:
a euforia!

Flávia tem quase 40,
corpo de menina,
e não sabe se pode doar sangue.
Ela é pequena, mas incomoda
segundo sua própria descrição.

Na terça seguinte, whisky
e trepamos novamente três vezes.
Na última, tantricamente, não gozei
Pois cansado, parei:
a saciedade!

No dia dos namorados,
Flávia, que estava sumida, reaparece
dizendo que deseja me ver;
Eu lhe contei da teoria dos três encontros
ela quase chorou, mas pagou para ver.

Porque três encontros são o ideal
Na moderna arte da paquera casual:
A euforia, a saciedade e a despedida.
Um improvável quarto encontro
É deveras perigoso.

Novamente numa terça
No derradeiro encontro,
trepamos uma única vez
Que valeu por três:
a despedida!

E eu que quase gostei dela,
e eu que quase dormi com ela,
quase rombi o limite do envolvimento
Mas um desentendimento
sinal de perigosa intimidade
Foi o ponto final
no nosso clássico casual.

Apenas Gratidão

Atração, sedução
Desejo latente,
paixão iminente:
a comédia da vida!

Discussão, decepção
Incompreensão decadente,
separação evidente
A tragédia da vida!
Porque te odeio
e te detesto mais que tudo!
Porque te amo
e te quero mais que tudo!

Tudo isso me faz sentir
demasiadamente vivo.
E se hoje choro,
amanhã sorrio,
e depois já não sei.
É preciso nobreza de alma
para assumir seus atos
Não culpar, não justificar.
Perdoar e pedir perdão.
Ser rígido consigo mesmo
e complacente com os outros.
Modo de agir estoico,
atitude de quem é reto e forte.
A vida passa num piscar de olhos
Os ciclos são comédias e tragédias
Estar alinhado com a natureza
é condição para saber viver.
Clama no meu espírito o presente.
A comédia e a tragédia:
sim, quem sabe perdoar
também aprende como amar.

Redenção integral do que foi
Aceitação irrestrita do que é
Manifestação sublime do que virá
Antes, durante e depois: apenas gratidão.

O Ego

O ego, essa pantera,
é uma besta-fera.
Animal ardiloso
que não mede esforço
para a sua mesquinha satisfação.

O ego quer o que ele quer
e toma decisões equivocadas.
Quando erra em função de sua visão míope
torna-se mestre em justificar suas ações
para não reconhecer os próprios equívocos.

O ego é uma ninfomaníaca
que trepa em todas as posições
gritando escandalosamente.
Fantasiar situações
e inventar histórias
são sua especialidade.

O ego não aceita a realidade.
É incapaz de lidar com frustração,
rejeição e solidão.
Julga que o inferno são os outros
quando ele próprio é o único problema.
O ego não sabe calar.
Discussões, acusações
Intrigas, conflitos
Tudo que gera mal-estar
É deleite para o monstro.

Na batalha da vida, penso eu
A única guerra realmente necessária
é contra o maior,
mais perigoso, daninho
e supremo inimigo:
a pantera besta-fera ego!

Quem me Quer, Quem eu Quero

Quem eu gosto não me quer
Quem me quer eu não gosto
O jogo se estabelece
Quem demonstra interesse
Logo se enfraquece.

Uma resposta rápida,
Um elogio
E o fatal "vamos nos ver?"
São a inevitável derrocada
Na arte da conquista casual.

Comedimento,
Distanciamento
Mesmo no gozo, a discrição:
Ela teme perder o que nunca teve
Ele nunca teve medo de perdê-la.

Desejar o que não se possui
É ingratidão
E um passo para a frustração
Do mundo das ideias
Que, por ser ideal, jamais é atingido.

Paixão, entrega, cumplicidade
Quem tem tempo para isso?
Porque, afinal,
Quem me quer eu não gosto
Quem eu gosto não me quer.

A Advogada

Ela é morena, baixinha, tem 32
Separada há seis meses,
É mãe de um cão
E se exercita diariamente
Disposta a arrancar blusas
E pendurá-las no cabide.

Fui o seu primeiro encontro real
Na moderna arte da paquera virtual
Débora não quis saber
E eu também não lhe disse
Que ela era a número sessenta e um.

Às 16 horas de uma terça ordinária
Subi dois andares
E encontrei a advogada
Para um bate-papo informal;
Débora usava uma blusa decotada
Que tive vontade de arrancá-la.

Tentei levá-la para a escadaria
Para um beijo ou dois
Quem sabe até bolinação adolescente?
Mas a advogada não deu provimento
À minha inocente petição.

Aguardando o elevador
Ela me pede um beijo
Sem hesitar, satisfaço o seu desejo
Consolidando, assim
Um improvável encontro vespertino.

Débora, uma mulher independente
Submissa somente no sexo
Insistiu no quarto sadomasoquista
Mas para sua surpresa decepção
Havia tão somente um sofá tântrico
Incompatível com chicotes, algemas
E blusas arrancadas.

Estar no Mundo

Às vezes na vida Tudo que você precisa São versos Ou notas musicais Que te levam Ao esquecimento Do sentimento De não mais poder ser. Às ve...