Estar no Mundo

Às vezes na vida Tudo que você precisa São versos Ou notas musicais Que te levam Ao esquecimento Do sentimento De não mais poder ser. Às vezes na vida Nos momentos de sofrimento Apenas pare um segundo Esteja no presente Seja presente Esqueça o passado Permaneça forte Não se preocupe com o futuro. Às vezes na vida Nos momentos de estresse Apenas respire fundo E observe Apenas observe: Os sons, As cores, As pessoas, As formas. Às vezes na vida Não se leve tão a sério No fundo, você Eu e todo mundo somos apenas grãozinhos de areia: Insignificantes, Impermanentes, Ridículos, Minúsculos. É fato na vida: Que você vai perder Que você vai sofrer Que você vai morrer Mas você também pode Cantar, rir e gozar E estar no mundo Sem nele estar.

Piscar de Olhos

Você nasce chora cresce sorri namora e goza Num piscar de olhos. Você ama odeia dorme estuda trabalha e se aposenta Num piscar de olhos. Você sonha acorda come defeca passal mal e vai ao hospital Num piscar de olhos. Você lê poemas de escritores malditos e bebe whiskies ilícitos Num piscar de olhos. Você escuta histórias do genitor amável e banha-se no mar favorável Num piscar de olhos. Você dá um beijo roubado no amante desejado e escuta blues à meia-luz Num piscar de olhos. Alegria, tristeza, desejo, e sofrimento Num piscar de olhos. Olhos que piscam sem pensar Olhos que enxergam sem ver Olhos que veem sem enxergar. Você vive Num piscar de olhos Você morre Num piscar de olhos Enquanto a vida acontece Num piscar de olhos.

O Tempo e a Vida

Há um tempo na vida Que acontece quando Um sentimento De incerteza, de estranheza faz-se presente. Um tempo de aceitação Um tempo de resignação Um tempo convergente. Neste tempo Já não importam Os amores perdidos As decepções, Frustrações, Desilusões. Há um tempo na vida Que você percebe Que está envelhecendo Que já não há mais tanto tempo Que muito tempo já se foi E logo o seu tempo também irá. Neste tempo Já não há mais um tempo Que passou Ou que virá Somente o tempo presente Que você se dá. Há um tempo na vida Que não há mais decepção Porque a bem da verdade Você não espera nada de ninguém E se alguém de repente aparecer E te fizer despertar Para aquele tempo De alegria e felicidade Talvez seja um novo tempo Tempo de recomeçar. Neste tempo Viver é uma obrigação Um dever, uma ordem. Como um soldado resiliente Você marcha e segue em frente sem pensar. Porque sabe que há um tempo Que já não há mais tanto tempo Tempo para esperançar.

Poema Libertário

Coloca para fora toda a tua dor! Grita, chora Aceita a realidade Amaldiçoa os deuses! Escuta o trovão Faz dele a tua perdição! Aceita a tempestade À deriva, encharcado Salta da embarcação! Bebe o teu whisky Sente a queimação! Aceita a frustração Bufa, tonteia Embriaga-te de ti mesmo! Escreve o teu poema Aceita a imperfeição! Delirante, cruel Coloca o teu verso no papel Abraça a solidão! Cura a tua ferida Renasce das cinzas! Abatido, esgotado Lança o grito da vitória Mesmo na derrota!

Naquele Domingo

Naquele domingo De tantos domingos Domingos felizes De intimidade, cumplicidade e desejo O derradeiro domingo. Naquele domingo Uma missão impossível: Mais fácil acabar com a fome Mais fácil viajar no tempo Mais fácil curar o câncer. Naquele domingo Eu tentei de verdade Com a alma em chamas O desejo ardente Ofereci o paraíso Como jamais antes havia oferecido. Naquele domingo Eu vi a frieza E a indiferença No teu olhar sem desejo No teu coração sem emoção É a morte! É a morte! Naquele domingo Algo em mim morreu E tive a certeza Que aquele domingo De tantos domingos Seria o último domingo. E agora, o que fazer no final daquele domingo? Como me sinto só! Como preciso de uma mulher Talvez hoje mais do que nunca. Naquele domingo A passos lentos Retornei atordoado E desabei no sofá Meditei e então decidi Visitar o Dirty Old Man Depois de tantos domingos. Naquele domingo Um chopp amargo Blues à meia-luz Uma jovem tatuadora bissexual De sorriso fácil E olhar sensual. Naquele domingo De tantos domingos Antes de dormir Pensei comigo: “Sim, estou vivo E sei como amar” Isso é o suficiente Para fazer um homem sonhar.

O Lutador

Ah, a vida! A vida é esta coisa que acontece Enquanto estamos presos no passado Ou com medo do futuro. Na batalha da sobrevivência A vida às vezes derruba o lutador Com crueldade, sem piedade Sangue jorrando Um gancho, um direto, um cruzado Fazem o lutador beijar a lona. Tonto, ele se levanta Tentando assimilar o que aconteceu Mas a vida segue implacável Outro gancho, outro direto, outro cruzado Que mais uma vez derrubam o lutador. Então o dia transforma-se em noite E no silêncio da escuridão Às quatro da manhã O cigarro é o único amigo Solitário, triste, frágil O lutador cogita desistir da luta. Mas aí algo acontece O lutador apanhou tanto Que já não se importa Ele é só resistência Ele é todo sofrimento Cicatrizes, crueldade, rejeição Então ele desafia a vida: "Venha, querida, bata mais forte Isso é o melhor que você pode fazer?" Então a luta muda E o jogo vira Porque o lutador aprende que é preciso coragem Para superar as adversidades Para enfrentar os medos Para mostrar a sua fragilidade Fragilidade é a própria condição humana! Então o jogo muda E a luta vira Porque o lutador aprende que é preciso compaixão Para enfrentar a covardia Para superar a indiferença Para mostrar o seu amor Amor é a expressão da coragem humana! Mas aí algo acontece O lutador começa a dançar E já não há medo Ele é só alegria Ele é todo resistência Louco, zombeteiro, delirante Então ele provoca a vida: "Venha, querida, tente me acertar de novo Será que agora você consegue me derrubar?"

Um Brinde Esta Noite

Vamos fazer um brinde Esta noite: Ao fracasso latente À covardia iminente À ausência de compartilhar. Vamos fazer um brinde Esta noite: Ao desprezo do ladrão À frieza como padrão À incapacidade de brincar. Vamos fazer um brinde Esta noite: Ao descaso gritante À indiferença prepotente À ausência de se entregar. Vamos fazer um brinde Esta noite: Ao desinteresse completo Às palavras sem afeto À incapacidade de amar. O último brinde Este noite Deixa um gosto amargo Sem rima, sem esperança Apenas vazio absoluto.

Ano Novo

Que poeta sou eu Que não escreve? Para onde foram as palavras Outrora tão presentes? Mais um ano termina Esperanças renovadas Corações dilacerados O tempo se perdeu. Que vida é esta Que não se resolve? Para onde foram as esperanças Outrora tão renovadas? Mais um sonho dilacerado Palavras ausentes Poemas não escritos A poesia se perdeu. E o poeta segue sem rumo Sem palavras Sem esperança Com o coração dilacerado Na vida que se perdeu.

Face Resignada

O espelho reflete As marcas do tempo Que mostram sua face Na minha face. A velhice bate à porta A juventude se perdeu Sonhos jamais concretizados Agora repousam enterrados. Venci algumas batalhas, é verdade Julguei-me demasiado esperto E conquistador Mas a sabedoria é apenas isso: Compreender que, ao final, a derrota é inevitável. Então a guerra está terminando A única virtude necessária Chama-se resignação: Aceitar a incontestável vitória Do senhor da razão. Os livros que não li, As músicas que não escutei, As mulheres que não conheci: O que aprendi, vivi e esqueci. Tudo é, de fato, irrelevante Insignificância cósmica, Poeira estelar, Olhos que agora não vão mais brilhar.

Estar no Mundo

Às vezes na vida Tudo que você precisa São versos Ou notas musicais Que te levam Ao esquecimento Do sentimento De não mais poder ser. Às ve...