Há um tempo na vida
Que acontece quando
Um sentimento
De incerteza, de estranheza
faz-se presente.
Um tempo de aceitação
Um tempo de resignação
Um tempo convergente.
Neste tempo
Já não importam
Os amores perdidos
As decepções,
Frustrações,
Desilusões.
Há um tempo na vida
Que você percebe
Que está envelhecendo
Que já não há mais tanto tempo
Que muito tempo já se foi
E logo o seu tempo também irá.
Neste tempo
Já não há mais um tempo
Que passou
Ou que virá
Somente o tempo presente
Que você se dá.
Há um tempo na vida
Que não há mais decepção
Porque a bem da verdade
Você não espera nada
de ninguém
E se alguém
de repente aparecer
E te fizer despertar
Para aquele tempo
De alegria e felicidade
Talvez seja um novo tempo
Tempo de recomeçar.
Neste tempo
Viver é uma obrigação
Um dever, uma ordem.
Como um soldado resiliente
Você marcha e segue em frente
sem pensar.
Porque sabe que há um tempo
Que já não há mais tanto tempo
Tempo para esperançar.
Poema Libertário
Coloca para fora
toda a tua dor!
Grita, chora
Aceita a realidade
Amaldiçoa os deuses!
Escuta o trovão
Faz dele a tua perdição!
Aceita a tempestade
À deriva, encharcado
Salta da embarcação!
Bebe o teu whisky
Sente a queimação!
Aceita a frustração
Bufa, tonteia
Embriaga-te de ti mesmo!
Escreve o teu poema
Aceita a imperfeição!
Delirante, cruel
Coloca o teu verso no papel
Abraça a solidão!
Cura a tua ferida
Renasce das cinzas!
Abatido, esgotado
Lança o grito da vitória
Mesmo na derrota!
Naquele Domingo
Naquele domingo
De tantos domingos
Domingos felizes
De intimidade, cumplicidade e desejo
O derradeiro domingo.
Naquele domingo
Uma missão impossível:
Mais fácil acabar com a fome
Mais fácil viajar no tempo
Mais fácil curar o câncer.
Naquele domingo
Eu tentei de verdade
Com a alma em chamas
O desejo ardente
Ofereci o paraíso
Como jamais antes havia oferecido.
Naquele domingo
Eu vi a frieza
E a indiferença
No teu olhar sem desejo
No teu coração sem emoção
É a morte! É a morte!
Naquele domingo
Algo em mim morreu
E tive a certeza
Que aquele domingo
De tantos domingos
Seria o último domingo.
E agora, o que fazer
no final daquele domingo?
Como me sinto só!
Como preciso de uma mulher
Talvez hoje mais do que nunca.
Naquele domingo
A passos lentos
Retornei atordoado
E desabei no sofá
Meditei e então decidi
Visitar o Dirty Old Man
Depois de tantos domingos.
Naquele domingo
Um chopp amargo
Blues à meia-luz
Uma jovem tatuadora bissexual
De sorriso fácil
E olhar sensual.
Naquele domingo
De tantos domingos
Antes de dormir
Pensei comigo:
“Sim, estou vivo
E sei como amar”
Isso é o suficiente
Para fazer um homem sonhar.
O Lutador
Ah, a vida!
A vida é esta coisa que acontece
Enquanto estamos presos no passado
Ou com medo do futuro.
Na batalha da sobrevivência
A vida às vezes derruba o lutador
Com crueldade, sem piedade
Sangue jorrando
Um gancho, um direto, um cruzado
Fazem o lutador beijar a lona.
Tonto, ele se levanta
Tentando assimilar o que aconteceu
Mas a vida segue implacável
Outro gancho, outro direto, outro cruzado
Que mais uma vez derrubam o lutador.
Então o dia transforma-se em noite
E no silêncio da escuridão
Às quatro da manhã
O cigarro é o único amigo
Solitário, triste, frágil
O lutador cogita desistir da luta.
Mas aí algo acontece
O lutador apanhou tanto
Que já não se importa
Ele é só resistência
Ele é todo sofrimento
Cicatrizes, crueldade, rejeição
Então ele desafia a vida:
"Venha, querida, bata mais forte
Isso é o melhor que você pode fazer?"
Então a luta muda
E o jogo vira
Porque o lutador aprende que é preciso coragem
Para superar as adversidades
Para enfrentar os medos
Para mostrar a sua fragilidade
Fragilidade é a própria condição humana!
Então o jogo muda
E a luta vira
Porque o lutador aprende que é preciso compaixão
Para enfrentar a covardia
Para superar a indiferença
Para mostrar o seu amor
Amor é a expressão da coragem humana!
Mas aí algo acontece
O lutador começa a dançar
E já não há medo
Ele é só alegria
Ele é todo resistência
Louco, zombeteiro, delirante
Então ele provoca a vida:
"Venha, querida, tente me acertar de novo
Será que agora você consegue me derrubar?"
Um Brinde Esta Noite
Vamos fazer um brinde
Esta noite:
Ao fracasso latente
À covardia iminente
À ausência de compartilhar.
Vamos fazer um brinde
Esta noite:
Ao desprezo do ladrão
À frieza como padrão
À incapacidade de brincar.
Vamos fazer um brinde
Esta noite:
Ao descaso gritante
À indiferença prepotente
À ausência de se entregar.
Vamos fazer um brinde
Esta noite:
Ao desinteresse completo
Às palavras sem afeto
À incapacidade de amar.
O último brinde
Este noite
Deixa um gosto amargo
Sem rima, sem esperança
Apenas vazio absoluto.
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