O Fingidor

O homem é sobretudo um animal que finge
Finge que acredita na justiça,
Na fraternidade
E até na igualdade.

Finge que é imortal
Assim se achando o tal
Finge que há sentido em tudo
Ignorando que não há sentido em nada.

Finge que é civilizado
Finge que com o outro se importa
Finge que faz amor altruísta
Mas no fundo é só sexo egoísta.

Finge orgasmos
Desconhece sarcasmos
Finge que é o escolhido dos deuses
E acredita que este é o melhor dos mundos.

Finge tanto que se esquece
Que é um fingidor nato
Até quando finge propositalmente
Sabe que é um fingido estelionato.

Finge que é amor para sempre
Finge que tudo vai dar certo
Finge que é feliz o tempo todo
Finge que é especial
Mas no fundo é tão somente um boçal.

Quando alguém, um louco talvez
No auge do atrevimento
Dando razão à realidade
Fala a mais singela verdade
O fingidor, então, vomita toda sua boçalidade.

O Tempo

O calor escaldante me faz o frio desejar
Quando o inverno congelante está presente
Anseio novamente o verão começar
E a única constante é a insatisfação permanente.

O homem, esse pretensioso animal pensante,
No tempo da natureza está sempre desalinhado
Em sua ilusão de controle incessante
Do tempo reclama sem nem ficar envergonhado.

Às vezes sinto o tempo passar voando
Quando vejo lá se foi a semana
O mês, o ano... dez anos!
E sempre comigo mesmo
A sensação permanente
De no tempo jamais conseguir me encontrar.

Quando sinto a ausência da tua presença
Isso me faz desejar
Reviver o tempo que perdi
Ocupado demais em do tempo reclamar.

Estar no Mundo

Às vezes na vida Tudo que você precisa São versos Ou notas musicais Que te levam Ao esquecimento Do sentimento De não mais poder ser. Às ve...