O homem é sobretudo um animal que finge
Finge que acredita na justiça,
Na fraternidade
E até na igualdade.
Finge que é imortal
Assim se achando o tal
Finge que há sentido em tudo
Ignorando que não há sentido em nada.
Finge que é civilizado
Finge que com o outro se importa
Finge que faz amor altruísta
Mas no fundo é só sexo egoísta.
Finge orgasmos
Desconhece sarcasmos
Finge que é o escolhido dos deuses
E acredita que este é o melhor dos mundos.
Finge tanto que se esquece
Que é um fingidor nato
Até quando finge propositalmente
Sabe que é um fingido estelionato.
Finge que é amor para sempre
Finge que tudo vai dar certo
Finge que é feliz o tempo todo
Finge que é especial
Mas no fundo é tão somente um boçal.
Quando alguém, um louco talvez
No auge do atrevimento
Dando razão à realidade
Fala a mais singela verdade
O fingidor, então, vomita toda sua boçalidade.