Amor Fati

Na marcha diária rumo à inevitável morte
Um espectador de mim mesmo é como me vejo.
Tudo que passou é estimado suporte
Para o porvir que almejo.

O presente é tudo que me agarro
A certeza num mundo de desconfianças.
Ao peito materno que encaro
Como a mais faminta das crianças.

A felicidade da superação
Nascimento, morte, resiliência.
A tristeza da frustração
A arte da aquiescência.

Quem é capaz de suportar o destino
E, como o mais louco entre os loucos, amá-lo ainda?
Pensamento nobre
Que justifica toda a existência.
Riso, choro, alegria, decepção
Gozo, namoro, sangria, corrupção
Amor integral ao destino:
Não desejar nada diferente.

O mais profundo pensamento
E a atitude mais nobre
Não apenas suportar,
Mas amar a vida:
Tudo que é, foi e será.

Clássico Casual

Era uma terça chuvosa de outono,
Feriado do trabalhador,
quando nos conhecemos.
E a bebida do deus Dionísio
a companhia de uma tarde melancólica.

Trabalhamos plenamente
por doze horas no meu sofá.
Na segunda taça de vinho
nos beijamos intensamente:
a euforia!

Flávia tem quase 40,
corpo de menina,
e não sabe se pode doar sangue.
Ela é pequena, mas incomoda
segundo sua própria descrição.

Na terça seguinte, whisky
e trepamos novamente três vezes.
Na última, tantricamente, não gozei
Pois cansado, parei:
a saciedade!

No dia dos namorados,
Flávia, que estava sumida, reaparece
dizendo que deseja me ver;
Eu lhe contei da teoria dos três encontros
ela quase chorou, mas pagou para ver.

Porque três encontros são o ideal
Na moderna arte da paquera casual:
A euforia, a saciedade e a despedida.
Um improvável quarto encontro
É deveras perigoso.

Novamente numa terça
No derradeiro encontro,
trepamos uma única vez
Que valeu por três:
a despedida!

E eu que quase gostei dela,
e eu que quase dormi com ela,
quase rombi o limite do envolvimento
Mas um desentendimento
sinal de perigosa intimidade
Foi o ponto final
no nosso clássico casual.

Estar no Mundo

Às vezes na vida Tudo que você precisa São versos Ou notas musicais Que te levam Ao esquecimento Do sentimento De não mais poder ser. Às ve...