Suspiros Poéticos

Esperando na fila da mercearia
A atrapalhada velhinha fala com toda calmaria
Enquanto aguardo resignado atendimento
Uma impaciente caixa suspira sem comedimento.

Ao ouvir que peço três carteiras de Marlboro
A mulher senil, admirada,
me pergunta se tenho pressa
No que respondo que tudo está bem,
sua lerdeza não me aflige
Mas ela tão preocupada a palavra me dirige: 
“Pressa em morrer, um jovem assim tão belo!”

Lembro à confusa senhora que são suspiros poéticos
Em estado de poesia,
Bem viveu por 88 anos o mestre Quintana;
Mas ela não compreende
e me diz com um olhar bizarro:
“Já fumei muito, hoje estou surda por conta do cigarro!”

Não conseguindo estabelecer a relação
entre uma coisa e outra
Julgo que é próprio da velhice
tamanha confusão mental
Assim como nas crianças
no alvorecer existencial
E são somente os cretinos
que vivem cheios de certeza superficial.

Por um breve momento,
Volto 50 anos no tempo
Imaginando a conselheira anciã em sua juventude
Sedenta de prazer,
uma ninfeta querendo o mundo explorar
Assim sucumbindo ao desejo
fumando após muito trepar.

Talvez pelo passado errante, 
Chegou à velhice um tanto quanto delirante
E hoje num estado tal de confusão mental
Incapaz de aceitar a finitude da vida,
A desconhecidos fala tamanho impropério
Quando está com um pé no cemitério.

Encerrando o assunto existencial mortal
O sábio conselho agradeço à velhinha
Porém lhe informo que, na verdade
O cigarro é para a minha vovozinha
Que apesar da confusão tão latente
Não se permite levar uma vida decadente.

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