Depois de 47 anos
buscando
uma ideia original,
um momento especial,
e um sentido colossal,
finalmente descobri
a resposta final.
Ela apresentou-se
elegante,
cínica,
e sarcástica.
De supetão
uma epifania
que gargalha.
A impostora possui
títulos acadêmicos,
discursos inflamados,
e vestidos apertados.
Mas, no fundo
o que lhe falta
são colhões.
Ela pode ser vista
a milhas de distância;
rebola no festival,
presenteia no Natal,
e bebe todas no Carnaval.
A fingida posta,
curte,
e defeca.
Tem curso superior
Faz isso e aquilo
e sempre sabe o que é certo
mesmo perdida
no deserto.
Nem a morte
é capaz de detê-la.
Cheque especial,
Receita federal,
Choque cultural.
O negócio já ficou
tão protocolar
como um louco bipolar.
Bluebird
Poemas para Beber com Whisky
Gemidos Altos e Escandalosos
Na reunião de condomínio
um sorriso bobalhão
De quem pensa ter domínio
Mas sequer leu a convenção!
Advogado meia bomba
Tentou o carteiraço
E com uma procuração
Quis dar uma de joão-sem-braço!
Ah, que cabaço!
Permitiu que sua própria mulher
Passasse vergonha
Ao no grupo de WhatsApp protestar!
"Gemidos altos
e escandalosos"
Assim a esposa vomitou preceitos
Contra os sons libidinosos!
Logo se fez uma discussão
E mulheres revoltadas
Contra o ato selvagem
Manifestaram sua indignação!
"Quer fazer pornô?
Vai para o motel!"
Assim falou outra histérica
Que, aliás, passaria fome no bordel!
Gemidos são como música
Para os ouvidos de eros
Uma saciedade que
Jamais se satisfaz.
O que é, queridas,
Realmente escandaloso:
A inveja
A frustração
O narcisismo
O consumismo.
Enfim,
numa palavra:
O mero-viver
De quem apenas existe
E sem gemer torna-se triste.
Existência Justificada
Toda a falta
Que me falta
Que faz falta
É uma ausência
inerente
dos dissabores da vida
da infância perdida
das perdas e,
enfim,
do sofrimento.
Todo dia
é uma resistência
ao envelhecimento
à finitude
à velhice
à pedra
que pesa
que rola
que esmaga
que se renova.
Toda a música
em sua presença
que preenche
a falta
desta ausência
É a experiência
de dizer
sem palavras
o que é necessário
essencial
e transcendental.
Toda existência é,
enfim,
justificada
por notas musicais
sorrisos triunfais
e prazeres animais.
Todo o restante é,
enfim,
desimportante
sufocante
superficial
e prejudicial.
Permissão para Chorar
Deixa as lágrimas
rolarem na tua face
sem comedimento
ou constrangimento
pois nenhum sentimento
é mais profundo
que chorar.
Não há nada
de errado
ou mesmo motivo
para te envergonhar
então por que segurar?
Chorar
de tristeza,
de alegria,
de raiva,
ou de dor.
Não é preciso
permissão para chorar.
Chorar como se fosse
o dia do teu nascimento
quando foste expulso
do paraíso.
Nada foi, é ou será
tão impactante
na tua vida insignificante.
Escutar um blues aflito
e deixar a música
rasgar o teu espírito.
Ler um poema inaudito
e te deleitar com
o poeta maldito.
Chorar como se fosse
o dia do teu próprio enterro.
Teu corpo gelado
sem vida, apodrecendo.
Velar-te a ti mesmo
e sentir toda a dor
da finitude existencial.
Chorar sem permissão
eis uma possível solução
para suportar
a ausência de sentido
deste bendito mal-estar!
Melancolia
Deixa a tristeza
inundar o teu coração.
E a música
em completa vazão
penetrar
na tua alma.
Lembra daqueles
que te foram caros.
Alguns já estão mortos,
outros mortos em vida.
E a certeza da finitude
desmanchando os teus ossos.
Alegra-te, afinal!
Acende um cigarro.
Bebe um gole aqui,
outro acolá.
Sente a embriaguez
cantarolando em ti.
Apieda-te dos esperançosos
com sua alegria forçada
e otimismo delirante.
A obsessão de mundo melhor
é, pois, o prenúncio
dos suicidas.
És imune à depressão!
Pois há em ti
tanta emoção
do tamanho do universo
de estar vivo
sem nenhuma pressão.
Estar no Mundo
Às vezes na vida
Tudo que você precisa
São versos
Ou notas musicais
Que te levam
Ao esquecimento
Do sentimento
De não mais poder ser.
Às vezes na vida
Nos momentos de sofrimento
Apenas pare um segundo
Esteja no presente
Seja presente
Esqueça o passado
Permaneça forte
Não se preocupe com o futuro.
Às vezes na vida
Nos momentos de estresse
Apenas respire fundo
E observe
Apenas observe:
Os sons,
As cores,
As pessoas,
As formas.
Às vezes na vida
Não se leve tão a sério
No fundo, você
Eu e todo mundo
somos apenas grãozinhos de areia:
Insignificantes,
Impermanentes,
Ridículos,
Minúsculos.
É fato na vida:
Que você vai perder
Que você vai sofrer
Que você vai morrer
Mas você também pode
Cantar, rir e gozar
E estar no mundo
Sem nele estar.
Piscar de Olhos
Você nasce
chora
cresce
sorri
namora
e goza
Num piscar de olhos.
Você ama
odeia
dorme
estuda
trabalha
e se aposenta
Num piscar de olhos.
Você sonha
acorda
come
defeca
passa mal
e vai ao hospital
Num piscar de olhos.
Você lê poemas
de escritores malditos
e bebe whiskies ilícitos
Num piscar de olhos.
Você escuta histórias
do genitor amável
e banha-se no mar favorável
Num piscar de olhos.
Você dá um beijo roubado
no amante desejado
e escuta blues à meia-luz
Num piscar de olhos.
Alegria,
tristeza,
desejo,
e sofrimento
Num piscar de olhos.
Olhos que piscam
sem pensar
Olhos que enxergam
sem ver
Olhos que veem
sem piscar.
Você vive
Num piscar de olhos
Você morre
Num piscar de olhos
Enquanto a vida acontece
Num piscar de olhos.
O Tempo e a Vida
Há um tempo na vida
Que acontece quando
Um sentimento
De incerteza, de estranheza
faz-se presente.
Um tempo de aceitação
Um tempo de resignação
Um tempo convergente.
Neste tempo
Já não importam
Os amores perdidos
As decepções,
Frustrações,
Desilusões.
Há um tempo na vida
Que você percebe
Que está envelhecendo
Que já não há mais tanto tempo
Que muito tempo já se foi
E logo o seu tempo também irá.
Neste tempo
Já não há mais um tempo
Que passou
Ou que virá
Somente o tempo presente
Que você se dá.
Há um tempo na vida
Que não há mais decepção
Porque a bem da verdade
Você não espera nada
de ninguém
E se alguém
de repente aparecer
E te fizer despertar
Para aquele tempo
De alegria e felicidade
Talvez seja um novo tempo
Tempo de recomeçar.
Neste tempo
Viver é uma obrigação
Um dever, uma ordem.
Como um soldado resiliente
Você marcha e segue em frente
sem pensar.
Porque sabe que há um tempo
Que já não há mais tanto tempo
Tempo para esperançar.
Poema Libertário
Coloca para fora
toda a tua dor!
Grita, chora
Aceita a realidade
Amaldiçoa os deuses!
Escuta o trovão
Faz dele a tua perdição!
Aceita a tempestade
À deriva, encharcado
Salta da embarcação!
Bebe o teu whisky
Sente a queimação!
Aceita a frustração
Bufa, tonteia
Embriaga-te de ti mesmo!
Escreve o teu poema
Aceita a imperfeição!
Delirante, cruel
Coloca o teu verso no papel
Abraça a solidão!
Cura a tua ferida
Renasce das cinzas!
Abatido, esgotado
Lança o grito da vitória
Mesmo na derrota!
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